Como escapar à crise da ética, à perda de toda referência capaz de julgar e orientar a existência? Tal pergunta nos conduz a Kant, o filósofo que se esforçou para encontrar uma saída para essa crise, fundamentando a ética, não no Bem, mas na Lei. Mas o que será dessa ética, num tempo em que o mal mais radical evoca a Lei. Eichamann, o carrasco nazista, se declarava Kantiano: será preciso ver nisso o indício de um fracasso da filosofia prática de Kant? Como demarcar os limites entre a verdade da Lei e a sua desfiguração? Uma certeza serve de guia a esta investigação: os textos kantianos, incansavelmente comentados, preservam parte do enigma; sua fonte secreta não se esgotou. Trata-se, portanto, de subtrair o pensamento da Lei às interpretações escolares que o recobrem. Desenha-se, assim, uma nova fisionomia desse pensamento, permitindo que enfrente os avanços da psicanálise, a ética de Levinas ou mesmo ao apelo para que se dê um salto além da ética.